sábado, 24 de agosto de 2013

Clássico ônibus Flecha Azul da Cometa retorna às estradas brasileiras

A Viação Cometa S.A. é uma das empresas de ônibus com mais tradição no Brasil. Possui linhas no Estado de São Paulo e para várias regiões do país. A linha mais tradicional, São Paulo/Rio de Janeiro, foi encampada em 2002 pela Expresso do Sul, uma empresa semi-coligada do novo grupo controlador da Cometa: Grupo JCA. A aquisição começou em dezembro de 2001 e, além de mudanças nas linhas, resultou numa mudança total na frota e na pintura, que passou a contar com novas cores mais vivas, nova logotipia e a foto do Cometa Halle Bopp. O grupo não comprou a fábrica de carrocerias da Cometa, a CMA. (Cia.Manufatureira Auxiliar) fabricante de carroçarias para ônibus rodoviários.
A história da Viação Cometa começa em 1937. O aviador italiano Major Tito Mascioli decidiu morar no Brasil definitivamente após chegar ao país pela primeira vez tripulando uma esquadrilha composta por 14 aviões Savoia Marchetti da Aeronáutica Italiana. Ele se tornou cunhado do agrimensor Arthur Brandi que, em 1937, fez um loteamento na região do bairro do Jabaquara, na zona Sul de São Paulo. A distância da região central de São Paulo impediu um sucesso maior das vendas. Então, Mascioli decidiu, através de concessão pública, criar uma linha de ônibus urbanos entre o Jabaquara e a Praça da Sé, no centro da cidade de São Paulo. A empresa inicialmente se chamava Auto Viação Jabaquara S.A. O empreendimento do ramo de transporte foi até melhor sucedido que o do ramo imobiliário. A Auto Viação Jabaquara chegou a ser responsável por quase a metade de todo o transporte coletivo da cidade de São Paulo. Em 9 de março de 1947 foi criada a CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, que acabou pegando as linhas da Auto Viação Jabaquara. Mesmo Mascioli trabalhando como Tesoureiro na CMTC, ele não recebeu indenizações pelas linhas de ônibus apropriadas pela empresa pública. No mesmo ano, ele comprou uma empresa de ônibus existente desde 1943, a Empresa Auto Viação São Paulo-Santos Ltda, e em 1948, o nome da companhia foi mudado para VIAÇÃO COMETA S.A., inspirados na logomarca da Auto Viação São Paulo – Santos Ltda, um cometa em forma de estrela cadente.
Em 1950, iniciava atuação no transporte coletivo da cidade de Campinas, interior de São Paulo, através da subsidiária C.C.T.C. (Companhia Campineira de Transporte Coletivo). A empresa teve atuação nas principais linhas da cidade, sendo inlusive a encerrante da operação dos bondes na metrópole do interior paulista. Deixou as operações em Campinas em 1988, com média de 1200 funcionários, e suas linhas foram divididas entre VCG – Viação Campos Gerais, TUCA – Transportes Urbanos Campinas, e VBTU – Viação Bonavita de Transporte Urbano.
Devido ao desenho de um cometa que já fazia parte da pintura da Viação São Paulo-Santos, sugerindo rapidez no transporte, e também pelo fato de a empresa já não mais fazer apenas a linha entre a Capital Paulista e o Litoral Sul do Estado, Mascioli decidiu mudar o nome da empresa para Viação Cometa. O curioso é que a cor padrão da empresa, azul e bege, foram inspiradas por Mascioli num jogo de porcelana no qual ele e a esposa tomavam os chás da tarde na Europa. Desde a Viação Jabaquara, o italiano dizia que os ônibus dele teriam a mesma cor do jogo de chá.
Compra de empresas
O crescimento da Viação Cometa se deu através da compra de empresas de ônibus e linhas já existentes.
  • Em 8 de junho de 1949 incorpora a Expresso Bandeirantes Viação S.A, extinguindo este nome.
  • Em 2 de outubro de 1950 compra a Rápido Serrano Viação S.A. e mantém o nome para algumas linhas
  • A partir de 1950 cria linhas novas “S.Paulo – Campinas”, “S.Paulo – Jundiaí” e “S.Paulo – Sorocaba”
  • Em 8 de dezembro de 1951 cria a primeira linha interestadual, SP – RJ, pela recém construída Rod.Pres. Dutra.
  • Em 1954 é obrigada a aumentar a frota da linha “São Paulo – Rio de Janeiro” e compra 30 ônibus norte-americanos GM Coach modelo PD-4104, considerados inovações para época, já que contavam com motor de 211 cavalos, carroceria de alumínio, suspensão a ar e ar condicionado.
  • Em 1961 inicia a operação de São Paulo para Curitiba, capital do Paraná, utilizando na frota ônibus GM PD-4101 e PD-4103, vulgos Lagartão e Imperial, remanescentes de uma compra de ônibus feita junto à Expresso Brasileiro de Viação Limitada (EBVL). No mesmo ano, tem início a parceria com a Scania, atráves da aquisição de um chassi B-71 importado para testes.
  • Em 1964 surgem os Papo Amarelos, encarroçados pela Ciferal, com chassi Scania B-75. Dois anos mais tarde, figuram como carros novos na frota da empresa os Flecha de Prata, com chassi Scania B-76, e os Monoblocos O-326 HL, oriundos de uma compra de cessão feita junto ao controlador da antiga Rápido Serrano. Os monoblocos receberam o nome Flecha Azul.
  • Em 1968, desembarcam no Brasil três chassis Scania com motor traseiro, modelo BR-110, vindos da Suécia, para testes em companhias no Brasil. As empresas que testaram o ônibus foram a Cometa, a Penha, de Curitiba, na época pertencente à família Piccoli, e a Unida Mansur e Filhos, de MG. A carroceria era Ciferal Líder.
  • A partir dos anos 70, a maior parte da frota era de ônibus com carroceria de alumínio
Nos anos 80, a empresa decide operar apenas em distâncias dentro de um raio de 600 quilômetros a partir da cidade de São Paulo para melhorar a relação custo/benefício das viagens para a empresa.
Apesar de serem veículos mais caros, a Viação Cometa via vantagens na frota de veículos de alumínio. Além de a manutenção ser mais fácil, o veículo era mais leve e acabava gerando uma economia em motores e suspensões, já que o menor peso provocava menos desgaste dos componentes. Inicialmente os veiculos eram em sua maioria comprados da General Motors norte americana, mas na década de 60, com o fim das importações, imposto pelo governo federal na intenção de incentivar a expansão da indústria nacional, acabou-se buscando novas soluções para a renovação da frota. Em 1959 foram adquiridos monoblocos O-321 H e HL, com carrocerias em aço, pesadas e inviáveis para a operação da empresa. Estes acabaram tendo vida curta na companhia, sendo que no final da década de 60, não havia praticamente mais desses veículos operando pela Cometa.
Na metade da década de 60, uma encarroçadora de São Paulo, a Striulli, produzia carrocerias em alumínio que tinham design inspirados nos modelos norte-americanos da General Motors (GM) e aqui eram fabricados por sob licença da montadora americana, e acabou sendo eleita pela Cometa como sua nova fornecedora de carrocerias, à época. A Cometa teve em sua frota muitos ônibus desta encarroçadora, montados sob chassis Mercedes-Benz O-326, e também houve uma excessão de um chassi de monobloco O-321 que necessitou de encarroçamento e foi construído por esta encarroçadora, recebendo o prefixo 483, e o nome CURUMIN. Porém os chassis da Mercedes-Benz não ofereciam para a companhia o mesmo desempenho e relação custo x benefício dos ônibus da GM, e acabaram sendo descartados no começo da década de 70.
Em 1961, a companhia adquiriu o primeiro chassi Scania vendido naquele ano. Tratava-se de um modelo B-71, sueco, com mecânica similar à do caminhão L-71 Regent. O veículo foi usado em caráter de testes, sendo que satisfez e muito as expectativas da companhia com relação ao veículo. Em 1964 era oficializada de fato a parceria Cometa x Scania, com a aquisição dos ônibus Papo Amarelo, de numeração série 800. Eram veículos equipados com o chassi B-75, nacionalizado, com carroceria da Ciferal, outra nova parceira da Cometa, na época, e era toda construída em duralumínio. O veículo era impulsionado pelo motor Scania D-10, de aspiração natural, não turbinado, e tinha suspensão de feixes de molas. A parceria da Cometa com a Ciferal perdurou ao longo de décadas, até que em 1982, a Ciferal sofreu uma dura quebra, entrando em concordata e interrompendo bruscamente suas atividades.
Nesta parceria surgiram vários ônibus de sucesso, entre eles os CIFERAL Papo Amarelo, Flecha de Prata, Jumbo B, Jumbo C (Scania BR-110 Importado da Suécia, carro 2014), Jumbo G (GM ODC Reencarroçado) Turbo Jumbo (Motor turboalimentado – Todos estes Jumbos no modelo Ciferal Líder) e finalmente o Dinossauro, que foi apresentado no Salão do Automóvel de 1972, encarroçado sob o chassi BR-115 da Scania, totalmente nacionalizado. Em 1976 a Scania lançou o chassi BR-116, e a Ciferal também lançou modificações na frente e traseira do Dinossauro, abandonando elementos como parachoques de alumínio e vidros traseiros e incorporando traseira e parachoques em fibra de vidro. Embasado numa legislação de 1979, que permita veículos rodoviários num novo tamanho de até 13,20 de comprimento, surgiu o Dinossauro II, com seis janelas laterais, e mais poltronas, ao contrário das versões anteriores.
Em 16 de março de 1983, a Cometa começa a operar a C.M.A. – Companhia Manufatureira Auxiliar – e a produzir seus ônibus. Começou a série de veículos “Flecha Azul”, que foi até o Flecha Azul VIII. A linha tinha os mesmos traços do Dinossauro, porém com pequenas alterações estéticas interna/externamente, bem como redesenhadas as estruturas da carroceria.
Em 1984, surge o primeiro Flecha Azul Automático, prefixo 5223, com chassi BR-116 e caixa Scania eletro-automática, importada da suécia. O sucesso na operação deste veículo resultou no surgimento, ainda no final de 1984, da série 53, denominada Flecha Azul Automático.
Em 1985, surge o Flecha Azul II, com a pintura original que foi mantida inalterada pela empresa até 2003. Recebeu acréscimo de 20 cm em sua altura total e na altura do para-brisa, e incorporou nova disposição das poltronas, de modo que nenhuma destas ficasse alojada frente às colunas das janelas, para que os passageiros em sua totalidade pudessem disfrutar de boa visão para fora do veículo.
No ano de 1987, o Flecha Azul recebe nova traseira, com aumento de 3 para 4 lanternas em cada lado, novas lanternas sinalizadoras de direção na parte frontal e nas laterais, e novas lanternas “sinaleiras” superiores, na parte frontal e traseira do veículo.
Em 1991, o Flecha Azul incorpora o novo chassi K-113 da Scania. A posição da alavanca de câmbio passa a ser mais afastada do painel, sendo que a alavanca pode ser mantida em posição reta, ao contrário da alavanca do chassi K-112, que era curvada. Os bancos passam a ser de couro no encosto e courvin preto nas laterais e traseiras, e o ônibus recebe novos acabamentos internos, adotando o carpete cinza escuro como revestimento interno.
Em 1993, surge o Flecha Azul III. O veículo passa a ter seis janelas em sua extensão total, sendo que são retiradas as pequenas janelas seguintes à do motorista e da porta. O veículo passa a ter plenamente 46 lugares, todos com area envidraçada móvel previlegiada, sendo que nenhuma poltrona fica sem ter uma janela que possa ser aberta.
Em 1995 é apresentado o Flecha Azul IV, que mantém os itens do Flecha Azul III, e incorpora as rodas de alumínio para pneus com câmara, da Alcoa, na época um dos modelos mais caros de rodas em alumínio comercializados no Brasil. Em dezembro de 1995, o Flecha Azul passa a contar com um vidro inferior na porta, para auxiliar o motorista nas operações de estacionamento, com melhor visibilidade da calçada ou da plataforma.
Em 1996, surgem o Flecha Azul V, incorporando as inovações do Flecha Azul IV em sua última série. De carona, vem a série Flecha Azul VI Leito, com ar condicionado ecológico da Thermo King, o Thermo King Super D-3, de 110.000 btus, com controle eletrônico de temperatura. Foram 10 carros equipados com este ar, do carro 9000 ao 9009. A segunda versão, denominada Flecha Azul VI B leito, teve 15 carros, sendo numerados de 9010 à 9025, sendo que o último carro fabricado em 1996 foi o 9016.
Em 1997, surge a série Flecha Azul VII, a partir do carro 7119, com uma inovação: as novas poltronas de pistão à gás, com braços móveis, que eram fornecidas por outro antigo parceiro, a companhia Teperman de Estofamentos.
Em 1998, em razão do encerramento da produção do K-113 CLB, a CMA produziu o último Flecha Azul sob o prefixo 7455. O primeiro chassi K-124 IB 4×2, com motor de 360 cv, recebido para testes pela companhia, foi vestido com o Flecha Azul VIII, ganhando o prefixo 7500. Novo painel, seguindo os padrões da Scania, e nova disposição das grades de ventilação na lateral esquerda chamam a atenção neste carro. A tampa traseira não possuia fenestrações de ar, uma vez que no veículo era inexistente a presença de um ventilador de radiador.
Em 1999, a CMA produz seu último Flecha Azul, sob o prefixo 7501. O Chassi era o mesmo do 7500, com dois diferenciais: o chassi possuia câmbio automático Scania Opticruise, e o motor era de 420 cv, eletrônico. Por muitos anos, este foi o único ônibus no Brasil a ter este câmbio, e até hoje é o ônibus brasileiro com melhor relação peso x potência e rendimento em cruzeiro e serras, por ter a carroceria extremamente leve e potência de sobra.
Em 2000, a CMA lançou outro modelo diferente da família Dinossauro/Flecha Azul, sem o camelo dianteiro (a “caída” do teto na frente) e equipado com 3 eixos. O desenho do veículo rompia totalmente com o padrão americano herdado dos GM PD-4104 que os Dinossauro e Flecha Azul tinham, porém não abandonava o padrão de chapas rebitadas lateralmente. Embora não usasse mais chapas frisadas, o veículo tinha o DNA da CMA e da Cometa, e era pintado nas cores azul metálico e dourado, ostentando um desenho de um Cometa estilizado na lateral. O modelo era o CMA-Cometa, posteriormente apelidado dentro da empresa de “Estrelão”. O veículo fez sua viagem inagural em 29 de Abril de 2000, no horário das 06:00, com destino a Franca, interior de SP.
Em 2001, após saída de um dos herdeiros do Major Tito Mascioli da sociedade da empresa, a companhia acabou sendo adquirida pelo grupo JCA, controlador de empresas como Auto Viação Catarinense, Rápido Ribeirão Preto, Auto Viação 1001, entre outras empresas. A partir desta fase transitória de comando, a empresa passou a adquirir carrocerias da Marcopolo, um dos mais tradicionais fabricantes de carrocerias, sendo que a CMA continuou operando até o primeiro semestre de 2002, para concluir a produção dos Estrelões cujos chassis já se encontravam aguardando encarroçamento. Como a encarroçadora não havia sido incluída na negociação, continuou fornecendo apenas peças de reposição.
O fornecimento de chassis também foi alterado, havendo quebra da parceria de quase 30 anos de exclusividade com a Scania. Foram adquiridos na ocasião chassis Mercedes Benz O-500 R; Mercedes Benz O-400 RSD (para os Double Deckers); Chassis Volvo B-10 R (Duas unidades, que foram encarroçadas pela Irizar; hoje os ônibus encontram-se com a Catarinense), e Scania K-124 IB 8×2 (também para os Double Deckers). Nos anos seguintes, as aquisições se resumem: 2003 – Comprados chassis Scania para convencionais, Leito e Double Deckers; 2004 – Chassis Scania para executivos; 2005 – Chassis Scania para executivos e convencionais; 2006 – Chassis Mercedes O-500 RS para convencionais e executivos e Volvo B-12 R para Executivos e Executivos/Leitos (Double Class). No mesmo ano também foram adquiridos 8 chassis Mercedes Benz LO-915, encarroçados pela Marcopolo, para operação na linha Circular de Jundiaí – São Paulo (sem paradas em terminais rodoviários); 2007 – Chassis Mercedes Benz O-500 RS e RSD para Convencionais, Executivos, Executivos/Leitos (Double Class) e Leitos. Destes carros 2007, um chassi em especial é o veículo número 350
Uma nova Cometa
Após a aquisição da empresa pelo grupo JCA, toda a empresa foi renovada. A nova programação visual, apresentada em dezembro de 2002, é de autoria da arquiteta Gabriela de Toledo Martins, do escritório de arquitetura Missemota Arq’Design, de São Paulo. O projeto busca a manutenção das cores, deixando os tons pasteis, e passando a ser em cores vivas. A proposta apresenta uma foto do Cometa Halle Bopp voando no espaço, delimitado por uma faixa amarela ouro, que representa a luz solar. Após esta faixa, podem ser vistos um fundo azul escuro metálico, com desenhos de um mapa astral, na cor azul clara opaca. A grafia do logotipo Cometa também foi renovada, abandonando as palavras VIAÇÃO e S.A., enfatizando somente o nome COMETA, que é auto-substantivo da empresa.
Em novembro de 2002 teve início a reforma dos ônibus de três eixos CMA-Cometa, que receberam nova pintura e novo interior. Em 2004, foi a vez dos tradicionais Flecha Azul, que ganharam modificações frontais e traseira, com a nova proposta visual. No interior, as poltronas em couro legítimo vermelhas foram reformadas e substituídas por poltronas em tecido azul.
Em agosto de 2006, seguindo uma determinação da Artesp, começaram a ser pintados os ônibus que operariam fretamento no estado de SP. Com uma pintura mais simplificada, mesclavam a cor prata, já existente nos ônibus, uma grande faixa azul, e uma pequena faixa amarela, destacando o logotipo Cometa e a foto do Cometa Halle Bopp na traseira do veículo.



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